Quando nasceu ela não foi reconhecida como Maria, mas sempre foi Maria.
Na infância eram nítidos seus traços femininos e sua preferencia pela maquiagem
da mãe a brincar de carrinho. Maria foi crescendo com o conhecimento que seu
sexo biológico não condizia com seu verdadeiro gênero.A puberdade chegou, e com ela, a
testosterona,trazendo para seu corpo
mudanças que ela não desejava.Na escola,
aluna exemplar (na época, por burocracia aluno). As melhores notas. Mas ainda
não tinha empoderamento o suficiente para escancarar sua verdadeira identidade
de gênero
Aluna exemplar que era, garantiu sua vaga em uma federal. Aquilo, para Maria era mais do que a realização do sonho de vestibulanda. Iria para a capital, muito menos conservadora e normativa do que a cidade onde vivia. Era sua chance de se libertar, de fazer sua transição. De assumir Maria Zanela para o mundo. Contou para a mãe e, felizmente, teve seu apoio.
Hoje, empoderada ela é Maria Zanela, uma das doze transexuais que estudam na ufsc entre mais de 30 mil alunos. Elas superaram a evasão escolar, tão comum entre transgêneros. Maria pretende formar carreira acadêmica, pois sabe que na iniciativa privada irá enfrentar todo tipo de preconceito.
Sobre as mudanças no seu corpo, sua transição não é indolor: São doses diárias e altas de hormônios femininos para adaptar seu corpo a seu verdadeiro gênero. Quanto a cirurgia de redesignação sexual, Maria considera fazer na Tailândia, onde o processo é mais rápido e menos burocrático. no Brasil, é demorado e são precisos pelo menos dois anos de terapia para que então o psicólogo decida de a pessoa pode ou não fazer a cirurgia. Para Maria, isso não faz sentido: " Como alguém pode saber melhor do que eu o que eu sinto, o que eu sou?"
No fim, Maria, que sempre estampa um sorriso e coragem nos olhos os cerra, indignada quando perguntada se a transexualidade é uma escolha: " Quem, em sã consciência escolheria passar por mudanças dolorosas e sofrer para o resto da vida com o preconceito?" Mas ela se levanta, e sorri novamente. Ela está aqui para transgredir as regras que querem nos resumir a meros cromossomos.